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24 de xan. de 2018

Chico Buarque: ludolingüista [3]



Chico Buarque regresa hoxe a Xogosdelingua. Xa soubemos do seu gusto polo xogo verbal con «Roda viva» e con «Construção». Desta volta, gozaremos da súa magnífica «Ode aos ratos». 
Ode aos ratos
Rato de rua
Irrequieta criatura
Tribo em frenética proliferação
Lúbrico, libidinoso transeunte
Boca de estômago
Atrás do seu quinhão
Vão aos magotes
A dar com um pau
Levando o terror
Do parking ao living
Do shopping center ao léu
Do cano de esgoto
Pro topo do arranha-céu
Rato de rua
Aborígene do lodo
Fuça gelada
Couraça de sabão
Quase risonho
Profanador de tumba
Sobrevivente
À chacina e à lei do cão
Saqueador da metrópole
Tenaz roedor
De toda esperança
Estuporador da ilusão
Ó meu semelhante
Filho de Deus, meu irmão
Rato
Rato que rói a roupa
Que rói a rapa do rei do morro
Que rói a roda do carro
Que rói o carro, que rói o ferro
Que rói o barro, rói o morro
Rato que rói o rato
Ra-rato, ra-rato
Roto que ri do roto
Que rói o farrapo
Do esfarra-rapado
Que mete a ripa, arranca rabo
Rato ruim
Rato que rói a rosa
Rói o riso da moça
E ruma rua arriba
Em sua rota de rato
Aínda que se adoita considerar o rato como un ser repugnante, nesta canción non. Buarque escolle figura do rato como metáfora do ser humano: «Ó meu semelhante / filho de Deus irmão». Os ratos posúen unha capacidade adaptativa que lles permite sobrevivir e proliferar nos máis diversos ambientes, como o home. Esa masa de roedores representa a capa máis humilde da poboación, que vive ou sobrevive nas rúas das grandes cidades.

Na súa loita pola supervivencia, a xente humilde, como os ratos, desenvolve unha actividade constante e frenética, representada maxistralmente pola aliteración dos vibrantes erres da derradeira estrofa. Os ratos-homes a roer sen descanso. Un xogo lingüístico que reta a dicción do falante máis habilidoso, como nalgúns dos nosos trabalinguas tradicionais:
Un lobo rubio roe un loro duro.
Se un lobo rubio o roe, un loro duro o remoe.
Outro exemplo máis da arte ludolingüística de Chico Buarque.

3 de abr. de 2014

Chico Buarque: ludolingüista [2]



Outro exemplo do engado das palabras esdrúxulas. Desta volta, «Construção» (1971) de Chico Buarque, considerada unha das mellores cancións brasileiras de todos os tempos. Unha letra memorable de 41 versos dodecasílabos rematados sempre nunha voz esdrúxula. Un mosaico de enunciados que se repiten practicamente iguais en sucesivas series coa única diferenza de variar de posición as palabras esdrúxulas.
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado
A canción relata o derradeiro día na vida dun obreiro que falece ao caer dunha estada nun edificio en construción e supón unha denuncia da alienación do traballador na nosa sociedade contemporánea, que o reduce a un elemento mecánico.

Unha temática que me trae á cabeza o poema «Monólogo do vello traballador» (1962) de Celso Emilio Ferreiro. Aquí deixo un fermoso videopoema desta peza creado por Andrea Nunes, Lorena Souto e Mario Regueira.



Con todo, Chico Buarque declarou nunha entrevista, en 1973, que «Construção» non era para el unha simple canción de denuncia ou protesta: «Em "Construção", a emoção estava no jogo de palavras. Agora, se você coloca um ser humano dentro de um jogo de palavras, como se fosse... um tijolo, acaba mexendo com a emoção das pessoas».

De novo, para sorte de todos nós, o xenial Chico Buarque ludolingüista.

4 de feb. de 2014

Chico Buarque: ludolingüista [1]



Quen imaxinaría a Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e Roberto Carlos, entre outros, a competir nun concurso musical máis próximo a un espectáculo de pressing catch ca a un festival convencional? Pois tan insólito encontro foi real: 1967, III Festival de Música Popular Brasileira. Entre aplausos e apupos dun público apaixonado, soaron as pezas destes artistas únicos (uns mozos daquela). O gañador... Edu Lobo. Recomendo vivamente, de terdes un par de horiñas, gozar do documental «Uma noite en 67»

O vídeo do inicio corresponde á interpretación de «Roda viva», do xenial Chico Buarque. Un tema a ritmo de samba que, como vemos, cativou o público do festival. Velaí vai a letra completa:
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir.
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou...
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou...
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas rodas do meu coração...
(4x)
Con este texto, Buarque conseguiu canear a censura da ditadura brasileira daquel tempo, pouco espelida polo que se ve, pois non deu recoñecido a metáfora da roda. Ante os desexos de liberdade («A gente quer ter voz ativa. / No nosso destino mandar»), esa «roda viva» representa o goberno militar da época, que unha e outra vez convertía en fracaso calquera tentativa de progreso («Mas eis que chega a roda viva / E carrega o destino prá lá»). E todo isto camuflado entre versos aparentemente inocentes e infantís («Roda mundo, roda gigante. / Roda moinho, roda pião»).

Un xogo de encriptación moi común en contextos de censura e represión. E a guinda... «Roda viva», que lida ao revés é «A viva dor», un bifronte que expresa á perfección o sufrimento e a carraxe ante a opresión. «Roda viva é a viva dor», aí queda o palíndromo do Buarque.

E diredes que desvarío, que ando a buscarlle tres pés ao gato. Podería ser, mais... sabedes que Chico Buarque é un dos mellores palindromistas en lingua portuguesa? Aquí vos deixo algúns dos seus enredos simétricos:
A miss é péssima!
Amora me tem aroma.
Acata o danado... e o danado ataca!
Assim, a sopa só mereceremos após a missa.
Até Reagan sibarita tira bisnaga ereta.
En fin, amante do palíndromo e da metáfora, dálle de novo ao play e... «adora a roda!».
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